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Cantos da Floresta – Forest Songs Video de apresentação do PhD (Tese Doutorado) de Magda Pucci








Tese de Magda Pucci pela Universidade de Leiden que apresenta o processo de pesquisa para o projeto Rupestres Sonoros realizado junto ao grupo musical Mawaca de São Paulo, baseado na recriação de músicas indígenas brasileiras assim como a intercâmbio musical, na Amazônia, com seis grupos indígenas durante a turnê Cantos da Floresta além de seus desdobramentos como a produção de livros didáticos, oficinas e novos projetos que buscam dar visibilidade às expressões sonoras indígenas.

Tudo começou com um arranjo intuitivo da canção antropofágica Koitxãgareh que me estimulou a desenvolver um projeto de mestrado em Antropologia com os Paiter Surui de Rondônia, cujo foco foi a digitalização, catalogação e tradução-classificação do seu acervo sonoro gravado pela antropóloga Betty Mindlin. O mestrado me conduziu à criação do projeto artístico Rupestres Sonoros baseado em recriações de músicas dos Txucarramãe, Paiter Surui, Ikolen-Gavião, Huni-Kuin, Kayapó e Pakaa-Nova cujas temáticas se relacionavam às imagens rupestres dos sítios arqueológicos da Serra da Capivara (PI) e de Belo Monte (PA). Os grafismos nas pedras se transformaram em partituras inspirando o Mawaca a “sonorizar” cenas vividas pelos paleoíndios.

Essas ideias se transformaram em material do show Rupestres Sonoros registrada em CD e DVD com o Mawaca com uma produção musical que envolvia outros elementos externos à estética indígena brasileira. Mawaca viajou até a Amazônia para um intercâmbio com artistas indígenas de seis grupos no Acre, Rondônia e Amazonas, o que nos possibilitou novos olhares. Durante a turnê Cantos da Floresta, nos encontramos com os Paiter Surui, Ikolen-Gavião, Karitiana, Kambeba, Huni Kuin e a Comunidade Bayaroá que compartilharam suas músicas conosco, participando dos shows do Mawaca como nossos convidados especiais. Nosso objetivo foi “colocar a música indígena no palco”, recriando e resignificando-como uma forma de jogar luz em culturas ainda obscurecidas, mas não menos interessantes e muito estimulantes.
Algumas questões foram parte desse processo: Como é possível interpretar/performar no palco rituais de outros povos? Como transpor conceitos indígenas para o palco sem desrespeitar as comunidades nativas? É possível reunir criatividade e pesquisa? São essas performances uma forma de iluminar essas comunidades subalternizadas na busca de uma estratégia decolonizadora?

Essa experiência provocou uma série de reflexões como a nossa falta de conhecimento permanente sobre as populações indígenas no Brasil. A consciência dessa invisibilidade indígena provocou a necessidade de criar outros projetos com o intuito de minimizar a famigerada ideia de que os indígenas são atrasados e selvagens e que coíbem o desenvolvimento do país.
O terceiro capítulo trata dessas reverberações e desdobramentos, pois para além das performances em teatros e pesquisas acadêmicas, seria necessário também produzir livros, websites e ministrar oficinas para professores tem por objetivo minimizar o hiato entre a Academia e o cidadão comum. Visam compartilhar esses saberes com professores que são multiplicadores em uma perspectiva do decolonialismo latino-americano (Walsh, Pajuelo, Mignolo), interculturalismo (Candau) e as ideias do Perspectivismo Ameríndio (Viveiros de Castro), considerando que estamos em um processo de construir pontes, criar diálogos, e caminhos de intercessão para que os indígenas passem de objetos de estudo a protagonistas da sua própria história e possam “re-existir” (resistir para existir).
A proposta dessa tese é lançar luzes sobre esse caminho poético, artístico e sensível e através do conhecimento “antropofagizado”, regurgitar, reinventar, subindo ao palco, escrevendo livros, produzindo CDs e vídeos, sob o risco de ser criticada por aqueles que se opõem ao perspectivismo e ao interculturalismo.
Tese completa disponível em
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